ESTUDOS ISOTÓPICOS E DATAÇÃO

Moderadora: Ana Luísa Rodrigues
10:45 – 11:05

LUMINESCÊNCIA APLICADA AO ESTUDO DAS DINÂMICAS DE PREENCHIMENTO EM RECINTOS DE FOSSOS PRÉ-HISTÓRICOS DE CONTEXTOS CARBONATADOS

Ana Luísa  Rodrigues1, Maria Isabel Dias2, António Carlos Valera3

1 – Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares (C2TN), Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa
2 – Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares (C2TN)/ Departamento de Engenharia e Ciências Nucleares, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa
3 – ERA Arqueologia S.A.
4 – Interdisciplinary Center for Archaeology and Evolution of Human Behavior (ICArHEB), Universidade do Algarve

O conceito de recinto de fossos surgiu recentemente no panorama arqueológico português constituindo uma das mais comuns e importantes arquiteturas da Pré-história recente. Estes espaços encerrados e delimitados por linhas de fossos escavadas, surgem em diferentes topografias, têm normalmente associadas grandes quantidades de fossas circulares e tempos de “vida” que podem variar entre as poucas centenas e um milhar e meio de anos. Muitos dos recintos de fossos apresentam particularidades (orientação em relação ao sol, topografia, arquitetura dos fossos, preenchimento de origem antrópica sequencial com aberturas, colmatações e reaberturas, enchimentos selecionados) que permitem atribuir-lhes uma utilização para fins relacionados com práticas de forte carga simbólica e cerimonial. Na sua maioria encontram-se em substratos geológicos com elevado grau de meteorização e/ou associados materiais ricos em calcite. Apesar do intenso trabalho desenvolvido num conjunto de recintos de fossos escavados no sul de Portugal, surgem ainda questões problemáticas: dificuldade em datar diretamente a abertura das estruturas; ritmo da colmatação; existência de numerosas estruturas negativas, com períodos de construção, ocupação e abandono, aleada à possibilidade de reescavação e reutilização de espaços e materiais. Neste sentido, são colocadas novas questões arqueológicas quanto à natureza e dinâmica do preenchimento destas estruturas, para as quais este trabalho visa contribuir com uma nova abordagem metodológica e interpretativa, com especial foco na aplicação de protocolos de datação por luminescência. É aplicada uma abordagem que, pela combinação dos métodos usados, se mostra inovadora e estratigraficamente detalhada, aos diferentes sinais de luminescência estimulada, à dosimetria e à composição dos materiais de preenchimentos destas estruturas. Aliada a esta abordagem visa-se explorar as questões relacionadas com o efeito da presença de calcite nos materiais geoarqueológicos e que afetam a datação por luminescência.

Palavras-chave: Estruturas arqueológicas negativas • Datação absoluta por Luminescência • Dinâmicas de preenchimento

11:05 – 11:25

IDENTIFICATION BY MASS SPECTROMETRY (ZOOMS) AND ISOTOPE ANALYSIS ON BONE REMAINS FROM LORGA DE DINE (VINHAIS, NE PORTUGAL)

Aurora Grandal-d’Anglade1, Ana M. S. Bettencourt2,3, Ana García-Vázquez1, Hugo Aluai Sampaio4,2

1 – Instituo Universitario de Xeoloxía, Universidade da Coruña
2 – Landscape, Heritage and Territory Laboratory (Lab2PT)
3 – Departamento de História, Universidade do Minho
4 – Escola Superior de Hotelaria e Turismo, Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, Barcelos, Portrugal

In the archaeological deposits, taxonomic identification of animal remains is not always straightforward due to the fragmentation that bones present. Recently, it was developped a new technique of molecular biology (proteomics) for the identification of bone fragments, through the peptide fingerprint (ZooMs). The basis of the ZooMS is relatively simple. Although all vertebrates have a similar gene from which the bone collagen is synthesized, there are small differences in the sequence of nucleotides between different taxa, and therefore small differences in the collagen amino acids. Breaking the collagen molecule between specific amino acids, the obtained set of peptides can be identified by MALDI-TOF (Matrix-Assisted Laser desorption/ionization, time of flight). Some of them are characteristic of a certain taxon, and their presence or absence will allow us to differentiate the taxon, working as true markers.
An example of the application of this technique is the study carried out to bone remains from Lorga de Dine, a cave that occupies one of the rare limestone massifs of northeastern Portugal next to the village of Dine (Vinhais, Bragança).
Although the lack of archaeological record (plants and stratigraphic profiles) form old excavations made during the 60´s of 20 century, the recovered data of some fauna and humans remains and objects could be dated back to the 3rd and 2nd millennia BCE (between 3840±40 BP and 3430±40 BPE), corresponding to the Regional end of Chalcolithic to Middle Bronze Age. Observing some evidences (like human bones and some objects) it is clear that the cave was used for funerary practices.
Several human and animal remains were selected for isotopic analysis. Animal samples are necessary to establish the isotopic baseline, fundamental for interpreting human diet. After identification of animal species (herbivores, omnivores, carnivores), the stable isotopes study showed the expected differences between the types of diet.

Palavras-chave: Peptide fingerprint • Zooarchaeology • Prehistoric cave

11:25 – 11:45

DEFININDO O QUE É LOCAL: O CASO DA ABORDAGEM ISOTÓPICA AOS PERDIGÕES E AO POVOAMENTO PRÉ-HISTÓRICO DE REGUENGOS DE MONSARAZ

António Carlos Valera1,2, Anne-France Maurer3, Indre Zalaite3, Cristina Dias3

1 – Era Arqueologia
2 – Interdisciplinary Center for Archaeology and Evolution of Human Behaviour (ICArEHB)
3 – Laboratório Hércules

A abordagem isotópica à mobilidade humana e de animais, nomeadamente através de 87SR86, tem vindo a ser progressivamente desenvolvida para avaliar os níveis de circulação e interacção na Pré-História Recente peninsular. Contudo, a definição do que se deve considerar como local frequentemente recorre apenas a critérios exclusivamente geológicos ou a valores de Sr de animais e, não menos frequentemente, a mobilidade é tratada apenas numa “mono escala” de local-exógeno.
Na presente comunicação, e baseando-nos no estudo que tem vindo a ser realizado sobre o recinto dos Perdigões (Reguengos de Monsaraz), evidencia-se a necessidade de a delimitação do “sinal local” resultar de uma prévia definição de uma rede de povoamento de base arqueológica, a partir da qual se define o espectro geológico a amostrar para determinação do amplitude de Sr local, assim como se sublinha que esta abordagem possibilita a construção de “escalas” de mobilidade que podem ser testadas, permitindo aceder de forma mais aproximada à real complexidade da mobilidade nas sociedades da Pré-História Recente peninsular.

Palavras-chave: Mobilidade • Estrôncio • Pré-História Recente

11:45 – 12:05

DO NASCIMENTO À VIDA ADULTA: O ESTUDO DOS ISÓTOPOS ESTÁVEIS DE CARBONO E AZOTO NA POPULAÇÃO MEDIEVAL DE SÃO MIGUEL DE ODRINHAS, SINTRA (PORTUGAL)

Cláudia Relvado1, Anne-France Maurer2, Cláudia           Umbelino3,4, Cristina Barrocas Dias2,5 Teresa Fernandes6,7

1 – Centro de Investigação em Antropologia e Saúde, Universidade de Coimbra
2 – Laboratório HERCULES, Universidade de Évora
3 – Centro de Investigação em Antropologia e Saúde, Universidade de Coimbra; Departamento de Ciências da Vida, Universidade de Coimbra
4 – Interdisciplinary Center for Archaeology and Evolution of Human Behaviour, Universidade do Algarve
5 – Escola de Ciências e Tecnologia, Departamento de Química, Universidade de Évora
6 – Centro de Investigação em Antropologia e Saúde, Universidade de Coimbra
7 – Escola de Ciências e Tecnologia ,Departamento de Biologia, Universidade de Évora

Os valores de δ13C e δ15N do colagénio ósseo têm sido amplamente utilizados na análise da dieta das populações humanas do passado, nomeadamente no que respeita aos padrões de amamentação e à introdução de outros alimentos que não o leite materno. A necrópole de São Miguel de Odrinhas (séculos XI-XV), constituída por 84 não adultos e 73 adultos, dos quais foram amostrados 15 adultos e 39 não adultos, assim como 10 amostras de fauna do mesmo local, integra o projecto TRANSCULTURAL (POCI-01-0145-FEDER-031599).
Os resultados obtidos para os adultos (δ15N=11,0±0,7‰; δ13C=-18,6±0,4‰) sugerem uma dieta predominantemente terrestre baseada em proteínas vegetais (plantas C3) e animais, com consumo de alguma proteína aquática, não existindo diferenças estatisticamente significativas entre sexos. Relativamente aos não adultos, dois dos três fetos analisados apresentam valores muito próximos dos adultos (δ15N=11,4±0,3‰; δ13C=-18,4±0,1‰), enquanto o outro exibe razões isotópicas de carbono e azoto mais elevadas (δ15N=12,8‰; δ13C=-17,6‰). Esta alteração pode resultar de períodos de stresse durante a gravidez ou de uma dieta materna diferente dos restantes adultos. Os não adultos entre os 0 e os 3 anos (n=9) apresentam uma maior diversidade de valores (δ15N=11,9±1,3‰; δ13C=-18,4±0,5‰), que se prendem com os padrões de amamentação/desmame e com a presença de indivíduos que parecem não ter sido de todo amamentados, sendo possivelmente alimentados com leite animal e plantas C3. O grupo entre os 4 e os 6 anos (n=9) regista os valores mais baixos de azoto e carbono (δ15N=10,4±0,5‰; δ13C=-18,9±0,4‰), os quais aumentaram ligeiramente nos grupos etários seguintes, ficando mais próximos dos valores dos adultos. As diferenças observadas parecem estar relacionadas com alterações na dieta durante o crescimento, não se podendo, contudo, descartar a influência do metabolismo em crescimento nos valores isotópicos. Este estudo traz um novo olhar sobre a amamentação e o desmame nas populações medievais portuguesas.

Palavras-chave: Paleodietas • Amamentação • Desmame

12:05 – 12:25

A DIETA E A MOBILIDADE DE POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS DO SUL DE PORTUGAL NA ANTIGUIDADE TARDIA

Cristina Barrocas Dias1, Anne-France Maurer1, Maria Conceição Lopes2, Rafael Alfenim3, Cláudia Umbelino4, Teresa Fernandes4, Maria João Valente5

1 – Laboratório HERCULES, Universidade de Évora
2 – Centro de Estudos de Arqueologia, Departamento de História Arqueologia e Artes, Universidade de Coimbra
3 – Direcção Regional de Cultura do Alentejo
4 – Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS), Universidade de Coimbra
5 – Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património, Universidade de Coimbra

Neste estudo apresentamos os resultados obtidos através do estudo antropológico, zoo-arqueológico e isotópico dos restos osteológicos humanos e animais de quatro populações da Antiguidade Tardia (séculos IV-VIII AD) do Sul de Portugal: Monte da Cegonha, São Cucufate, Alpendre dos Lagares e Mértola.
Serão avaliadas a dieta e a mobilidade das populações humanas e animal, recorrendo a análises isotópicas de carbono, azoto e enxofre no colagénio dos ossos, de carbono na apatite óssea, e de oxigénio e estrôncio no esmalte dentário.
Foi analisado um total de cerca de 120 amostras, compreendendo restos osteológicos humanos e fauna doméstica e selvagem. A fauna, contemporânea dos restos humanos, foi estudada para ser possível a correcta interpretação dos resultados obtidos para cada uma das populações humanas, fornecendo igualmente alguma informação sobre as condições da agro-pecuária para cada local.

Palavras-chave: Paleodieta • Mobilidade • Antiguidade Tardia